quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Montanha russa.


Me sinto na fila de uma montanha russa. 
Encontrei essa frase do Tico Santa Cruz hoje de tarde. Claro, era exatamente isso que eu queria dizer.
Sabe quando você tá na fila do brinquedo esperando que cada segundo se torne uma eternidade, e que a sua vez não chegue nunca.
Mas ao mesmo tempo queria que chegasse de uma vez, que você vivesse todas as emoções de uma só vez, sem pesquisa prévia.
Você olha pro lado e fica pensando se aquelas pessoas estão sentindo a mesma coisa que você. Algumas sim, umas poucas estão nem aí, ou pelo menos tentam aparentar isso.
Você foi lá, comprou o ingresso, pagou o preço para estar ali. Numa caminhada demorada, de passo por passo vai chegando a sua vez. 
Então falta apenas um, e você já não sabe mais se é ali que você gostaria de estar. Talvez tivesse escolhido outro brinquedo, talvez nunca devesse ter vindo para o parque.
Mas é o que dizem: agora que você veio, precisa brincar.
Chega a sua vez, você até tenta ficar em uma cadeira do meio, talvez o impacto seja menor. Afinal você ainda não sabe se é do tipo que fica na 1ª cadeira ou na última. Por enquanto o meio está bom.
O cinto do brinquedo desce, e o monitor avisa: "se alguém quiser desistir, que faça agora."
Um.
Você pensa: "sim, eu quero!"
Dois.
Você repensa: "não, eu tenho que continuar!'
Três.
O cinto prende e pronto. Ele só vai ser solto quando chegar ao fim do caminho.
O brinquedo começa a andar, você escuta o som dos ferros.
O controle não é seu, você está dentro do brinquedo e não tem como sair. Não existe como pará-lo ou fazê-lo mudar de curso.
O seu único desejo é que exista um manobrista. Alguém que você não está conseguindo enxergar, mas que você sabe que está lá para qualquer emergência. Você precisa acreditar nisso, é o que te faz seguir em frente sem desmaiar.
O brinquedo sobe, sobe, sobe.. é uma subida sem fim. Mas você sabe o que acontece lá em cima.
Você prende a respiração.
O seu coração quer sair por qualquer orifício possível.
Você quer sair, pede pra parar, chora, faz o que for possível. Se arrepende.
Então o brinquedo cai, literalmente você cai em um abismo. 
Você só grita, um grito por tanto tempo contido de todas as maneiras possíveis. Mas agora não tem mais jeito, o brinquedo não pará mais.
O que você faz é gritar quando acha necessário, chorar quando não dá mais, e soltar urras de alegria. Por estar ali, por não ter desistido.
O brinquedo vai e vem, desce e sobe. Sempre o mesmo percurso previsivelmente incalculável. 
E talvez depois de tudo você vai sentir aquela sensação de alívio, e a melhor de todas a de querer mais. Tudo bem, o bilheteiro está te esperando para mais uma volta.




Aí você acorda, foi um sonho? Não sei, mas você ainda está na fila da montanha russa.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O maior erro de todo homem



Este texto fala de mulheres, traições, pássaros e conquistas. Contudo, começamos com uma cena diária. A tela está muito escura e o Antonio Fagundes parece uma ariranha. Ela, sua garota, não consegue ajustar o brilho no controle remoto. Você acode, nobilita o quanto ela é burra e larga o aparelho sofá. Ou você mostra o quanto é fácil manusear as configurações, dá um beijo na ponta do nariz e volta ao que estava fazendo.
Antes do "ou" (porque a vida é feita de vários "ous"), você tem uma mulher enfraquecida, o que - em tese - é um ponto a seu favor, visto que quanto mais insegura e frágil ela se tornar, menos chances tens de ser chutado feito cão sarnento. Parece bom esse esquema tático. Quanto menos ela se considera, mais você se acha. Depois do "ou" (repito, passe a enxergar mais os "ous"), ela é uma moça beijada no nariz que aprendeu uma coisa nova.

Não enrola, qual seu argumento? Uma menina me ensinou, certa feita: "eu gosto dele, mas gosto muito mais de mim quando estou perto dele". Acendeu-me uma lâmpada fluorescente na moleira clarificando o melhor caminho pra conquistar e manter uma mulher: fazê-la apaixonar por si mesma.

O maior erro de todo homem é enlaçar o ser feminino fazendo autópsia em suas virtudes umbilicais. A questão, mané, é que sempre existirá um cara mais charmoso, mais engraçado, mais bonito, mais rico e mais George Clooney que você. Seus predicados não passam de bons referenciais enquanto houver calor. Mulheres são pássaros, migram pro lado quente da vida, se alimentam de relacionamentos interpessoais, comunicação, parceria. Ao contrário de você, que é capaz de levar o iPhone pra fazer xixi na rua.
Então, bobão, pergunto: qual a única pessoa que uma mulher jamais vai querer se distanciar? Ela mesma. Enquanto ela amar-se, suspirar de auto paixão, enquanto ela for sua própria namorada lésbica, e você apimentar essa condição, ponto pra você. Ela gosta de você porque a faz sentir-se irresistível perante às amigas, porque juras que ela é capacitada e importante na profissão que escolheu, daria uma boa mãe, tem cheiro de alecrim doce e uns pés lindos, é a melhor transa da sua vida e fica um charme de casaquinho canguru, all star e rabo-de-cavalo.

Toda mulher sente-se feita de ouro quando é acariciada todos os dias, seja com a mão, com palavras, atitudes, telefonemas e penetrações. Onde houver sol, lá estará ela, parada, sorrindo pra você, deixando você assisti-la tomar banho. Entendo sua aflição a cada linha que se recolhe no texto e a improbabilidade de uma elucidação oraculosa. Aí que tá. Sei como é, só não sei como fazer. Não são as perguntas que chacoalham o mundo? Mexa-se daí, enquanto mexo-me daqui.

Retirado do blog www.carascomoeu.com.br



sábado, 16 de outubro de 2010

Meu eu em você.



Essa não poderia deixar de estar aqui.
Em homenagem há tudo que um dia me fez sorrisos, virou lição e que hoje é lembrança.


"Eu sou o brilho dos teus olhos ao me olhar
Sou o teu sorriso ao ganhar um beijo meu
Eu sou teu corpo inteiro a se arrepiar
Quando em meus braços você se acolheu.

Eu sou o teu segredo mais oculto
Teu desejo mais profundo, o teu querer
Tua fome de prazer, sem disfarçar
Sou a tua fonte de alegria, sou o teu sonhar.

Eu sou a tua sombra, eu sou teu guia
Sou o teu luar em plena luz do dia
Sou tua pele, proteção, sou teu claro
Eu sou o teu cheiro a perfumar o nosso amor.

Eu sou a tua saudade reprimida
Sou o teu sangrar ao ver minha perdida
Sou o teu peito a apelar, gritar de dor
Ao se ver ainda mais distante do meu amor.

Sou teu ego, tua alma
Sou teu céu, o teu inferno, a tua calma
Eu sou teu tudo, sou teu nada
Minha pequena, és minha amada.

Eu sou o teu mundo, sou teu poder
Sou tua vida, sou meu eu em você."

Victor e Léo

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Crônica...



" Quando eu for bem velhinha, espero receber a graça de, num dia de domingo, me sentar na poltrona da biblioteca e, bebendo um cálice de vinho do Porto, dizer a minha neta:
- Querida, venha cá. Feche a porta com cuidado sente-se aqui do meu lado.
Tenho umas coisas para te contar. E assim, dizer apontando o indicador para o alto:
- O nome disso não é conselho, isso se chama colaboração! Eu vivi, ensinei, aprendi, caí, levantei e cheguei a algumas conclusões. E agora, do alto dos meus 82 anos, com os ossos frágeis, a pele mole e os cabelos brancos, minha alma é o que me resta, saudável e forte.
Por isso, vou colocar mais ou menos assim:
- É preciso coragem para ser feliz.
Seja valente. Siga sempre o seu coração. Para onde ele for, seu sangue, suas veias e seus olhos também irão. E satisfaça seus desejos. Esse é seu direito e obrigação. Entenda que o tempo é um paciente professor que irá te fazer crescer, mas a escolha entre ser uma grande menina ou uma menina grande, vai depender só de você.
Tenha poucos e bons amigos.
Tenha filhos.
Tenha um jardim.
Aproveite sua casa, mas vá a Fernando de Noronha, Barcelona e à Austrália.
Cuide bem dos seus dentes.
Experimente, mude, corte os cabelos.
Ame para valer, mesmo que ele seja o carteiro.
Não corra o risco de envelhecer dizendo "ah, se eu tivesse feito...".
Tenha uma vida rica de vida.
Vai que o carteiro ganha na loteria! - tudo é possível, e o futuro, tsc, é imprevisível.
Viva romances de cinema, contos de fada e casos de novela.
Faça sexo, mas não sinta vergonha de preferir fazer amor.
E tome sempre conta da sua reputação, ela é um bem inestimável. Porque sim, as pessoas comentam, reparam, e se você der chance, elas inventam também detalhes desnecessários.
Se for se casar, faça por amor. Não faça por segurança, carinho ou status.
A sabedoria convencional recomenda que você se case com alguém parecido com você, mas isso pode ser um saco! Prefira a recomendação da natureza, que com a justificativa de otimizar os genes da reprodução, sugere que procure alguém diferente de você. Mas para ter sucesso nessa questão, acredite no olfato e desconfie da visão. É o seu nariz quem diz a verdade quando o assunto é paixão.
Faça do fogão, do pente, da caneta, do papel e do armário, seus instrumentos de criação.
Leia, pinte, desenhe, escreva.
E, por favor, dance, dance, dance até o fim, senão por você, o faça por mim.
Compreenda seus pais. Eles te amam para além da sua imaginação, sempre fizeram o melhor que puderam, e sempre o farão.
Cultive os bons amigos. Eles são a natureza ao nosso favor e uma das formas mais raras de amor.
Não cultive as mágoas - porque se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que um único pontinho preto num oceano branco deixa tudo cinza.
Era isso minha querida. Agora é a sua vez.
Por favor, encha mais uma vez minha taça e me conte:
- "Como vai você?"


Maria Sanz Martins

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Depois do começo.. um sorriso no fim!





"e depois do começo, o que vier vai começar a ser o fim.."


Foi a frase que me chamou a atenção hoje, foi a frase que resumiu o que eu tentava dizer.
É uma música do Legião, que leva o título de "Depois do Começo", e que deu título a estas palavras.
São tantas coisas pra resolver, tantas vezes que eu terei de parar e respirar pra criar coragem e seguir em frente. 
Mas e depois de tudo o que vem?
Quando a gente cresce tá mesmo em contagem progressiva ou regressiva? É um minuto a mais ou a menos?
Eu não sei. O tempo é a minha grande questão, a maior de todas.
O que eu tenho certeza é que vai ficar tudo bem. Tudo certo.
Ontem eu fraquejei, eu confesso. Chorei e pensei em desistir. Só queria um abraço, um alento. E não encontrava nada, me cobro tanto que acabo cobrando o mesmo dos outros.
E como prova da minha falsa descrença, o telefone tocou e me trouxe um abraço.
Ás vezes eu preciso ser cuidada, não tenho forças pra cuidar. Nem de mim, nem de ninguém.
Ontem foi um desses dias. Ontem foi um dia a menos, com certeza.
Hoje,porém, se tornou um dia a mais. E eu espero que os próximos também.
Talvez hajam dias a mais e a menos. Os dias que a gente subtrai, às vezes subtrai tanto que eles desaparecem. E os dias em que a gente, soma, melhor os dias que a gente multiplica.
Hoje é um dia de multiplicar, e por enquanto é isso que eu vou guardar.
Continuarei me cobrando, cobrando dos outros, e sofrendo por antecipação. Mas tudo bem, por que eu sei que sempre vai ter um sorriso lá no fim.





=)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Mundial de Clubes - Chamada do COLORADO



Impossível não se arrepiar!
É só para quem entende essa paixão enlouquecida.

"Inter, estaremos contigo! Tu és minha paixão, não importa o que digam!
Sempre levarei comigo, minha camisa vermelha e a cachaça na mão
O Gigante me espera para começar a FESTA!
Xailaiááá Xaialaiááááááá Xalaialaiááááááá
Você me deixa doidão!"

Você Tem Que Me Ler


É antropológico: mulher odeia ser mandada. São séculos e séculos de opressão. Não dê corda, que já cheira a forca. Vale, inclusive, para a masoquista. Gosta de firmeza, não que alguém diga o que ela deve ou não fazer. Não seja autoritário. O feminismo não é conversa de sapatão.

Que aconselhe, não emplaque uma ordem. Que ofereça um palpite, este é despretensioso como um assobio, é soprar uma melodia e permitir espaço para que ela complete a letra. Finja que está no chuveiro – menor o risco de se afogar. Fale cantado. Quem canta nunca será um ditador.

Posso estar plenamente equivocado, sou tão bonito quanto carro de eletricista, mas mulher aprecia é sentir saudade. Quando o homem desaparece e ela corre para procurá-lo. São coisas do cotidiano. Fui percebendo que a conversa com a minha namorada estragava sempre do mesmo jeito. Havia um método no erro. Uma insistência de minha parte. Uma frase morse que truncava o entendimento. Depois que pronunciava aquilo, nada mais funcionava. Da calmaria, ela migrava para um estado nervoso e impaciente. A transformação de sua atitude me baqueava: O que foi? Será que perdi algo? Retrocedia para caçar uma gafe. Cansei até captar o sinal. O homem ainda tenta melhorar sua imagem com o bombril na antena.

Eu dizia “você tem que” a cada início de diálogo. Impositivo, não agia por mal, era um hábito, buscava convencer com “você tem que”. Parecia que tinha a solução dos problemas do mundo. Persuasão é a sedução para quem não tem paciência. Meu caso; não cuidava da linguagem e depois estranhava o silêncio dela. “Você tem que” é um mandado de segurança. É atestar que ela não desfruta de condições de conduzir a própria vida. Virava um segundo pai, determinando suas atitudes. Fugia da cumplicidade, vinha com os mandamentos e as condicionais de comportamento para que merecesse a mesada.

O homem não botou na cabeça que a fragilidade da mulher não é dependência. Ela não precisa ser protegida, e sim respeitada. Existe uma diferença aguda no tratamento. Depois que ela fica braba não adianta remendar. Emerge um pânico das cavernas, o receio de ser puxada pelos cabelos e pelas palavras. Igual é chamá-la de louca no meio de uma discussão.

Quem não encheu o pulmão para desabafar “você está louca!”, com aquele grito catártico, que serve como elevador para todo o prédio? Eu confesso, mais de uma vez. É novamente afirmar que ela não tem domínio, que nem sabe o que está falando e menosprezar sua opinião. Pode até ser louca, mas não chame de louca, senão ela não vai recuperar o juízo. Na história do pensamento, quantas mulheres foram enviadas para o hospício devido a sua autonomia? Quantas receberam eletrochoque ou sofreram lobotomia em função da independência de estilo? Significa um joanete ancestral, um calo antiguíssimo, não pise.

Joana D’Arc não foi uma bruxa. Assim como vassoura não é para voar, é para varrer qualquer sujeira machista dentro de casa.


Texto de Fabrício Carpinejar publicado no Jornal Zero Hora.