quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Destralhamento



"Bom dia, como tá a alegria"?

Diz dona Francisca, minha faxineira rezadeira, que acaba de chegar.
”Antes de dar uma benzida na casa, deixa eu te dar um abraço que preste!" e ela me apertou.
Na matemática de dona Francisca, "quatro abraços por dia dão para sobreviver; oito ajudam a nos manter vivos, 12 fazem a vida prosperar".

Falando nisso, "vida nenhuma prospera se estiver pesada e intoxicada". Já ouviu falar em toxinas da casa?

São os objetos que você não usa, roupas que você não gosta ou não usa há um ano, coisas feias, coisas quebradas, lascadas ou rachadas, velhas cartas, bilhetes, plantas mortas ou doentes, recibos/jornais/revistas antigos, remédios vencidos, meias velhas, furadas, sapatos estragados.

Ufa, que peso!

"O que está fora está dentro e isso afeta a saúde", aprendi com dona Francisca.

"Saúde é o que interessa. O resto não tem pressa!”, ela diz, enquanto me ajuda a 'destralhar', ou liberar as tralhas da casa. O 'destralhamento' é a forma mais rápida de transformar a vida e ajuda as outras eventuais terapias.

Com o destralhamento a saúde melhora, a criatividade cresce e os relacionamentos se aprimoram.

É comum se sentir cansado, deprimido e desanimado em um ambiente cheio de entulho, pois "existem fios invisíveis que nos ligam a tudo aquilo que possuímos". Outros possíveis efeitos do "acúmulo e da bagunça" são sentir-se desorganizado, fracassado, limitado, aumento de peso, apegado ao passado...

No porão e no sótão, as tralhas viram sobrecargas. Na entrada, restringem o fluxo da vida. Empilhadas no chão, nos puxam para baixo. Acima de nós, são dores de cabeça.

“Sob a cama, poluem o sono”.

"Oito horas, para trabalhar; Oito horas, para descansar; Oito horas, para se cuidar."

Perguntinhas úteis na hora de destralhar-se:

- Por que estou guardando isso?

- Será que tem a ver comigo hoje?

- O que vou sentir ao liberar isto?

E vá fazendo pilhas separadas para doar, para jogar fora. Para destralhar mais: livre-se de barulhos, das luzes fortes, das cores berrantes, dos odores químicos, dos revestimentos sintéticos, e também libere mágoas, pare de fumar, diminua o uso da carne, termine projetos inacabados.

"Se deixas sair o que está em ti, o que deixas sair te salvará... Se não deixas sair o que está em ti, o que não deixas sair te destruirá", arremata o mestre Jesus, no evangelho de Tomé. "Acumular nos dá a sensação de permanência, apesar de a vida ser impermanente", diz a sabedoria oriental.

O Ocidente resiste a essa idéia e, assim, perde contato com o sagrado instante presente. Dona Francisca me conta que: "As frutas nascem azedas e no pé, vão ficando docinhas com o tempo". A gente deveria de ser assim, ela diz: "Destralhar ajuda a adocicar”. Se os sábios concordam, quem sou eu para discordar.

"As pessoas realmente ligadas não precisam de ligação física. Quando se encontram, ou reencontram, mesmo depois de muitos anos, a amizade é tão forte quanto sempre".

(Deng Ming-Dao )


Extraído do Orkut de Wilson Pedro (Pe Wilson)

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Por Sorte


Estou escutando "Chão de Giz" e me deu vontade de agradecer, de falar de tudo que é bom. Perco muito tempo enumerando tudo que deu errado e tudo que eu não queria que fosse.
As vezes, e algumas pessoas diriam quase sempre, eu sou muito chata e exigente. Me perco nos detalhes pequenos e esqueço do que é muito maior.
Como eu já disse sou egoísta.
Mas tudo bem, por que eu sempre tive muita sorte na vida.
Nasci na sorte, sou a 7ª filha de uma mãe que eu não conheço. Depois disso, tive mais sorte ainda, não fui para um abrigo.
Sabe-se lá por que a minha mãe pegou um fusca e veio me encontrar, o que importa é que ela disse que eu a reconheci na hora em que ela me pegou no colo, e ela encontrou o que procurou por vidas. Depois disso ela me perdeu no fusca, e me derrubou na cama, me deixou muito tempo com o xampoo mata-piolho, e por aí vão as histórias. Mãe de primeira viagem, e a minha mãe por sorte.
A minha tia esqueceu o meu nome quando o juiz pediu, e por sorte eu me chamei Bibiana. Por sorte e por Érico Veríssimo, só depois que eu entendi a força do nome Bibiana Terra.
Eu podia estar em qualquer lugar, mas por sorte eu recebi uma família que me criou com todo o amor que é possível. Eu fui embora de casa algumas vezes, cheguei a rodoviária com algumas moedas tentando chegar no México talvez, mas eles sempre me perdoaram e me trouxeram de volta. Eles me seguiam pra ver até onde eu ia. E eu também levei a culpa por ter matado uma barbie da minha prima. Há alguns anos atrás, a minha outra prima confessou o crime. Mesmo assim, por sorte eles são a minha herança.
Eu tive bronquite, sinusite, amigdalite, dor de dente, furúnculo no ouvido, quebrei o braço, torci o pé e minha mãe esmagou um marimbondo nas minhas costas. Enfiei o dedo em um cano de piscina, um cisco caiu no meu olho e eu fiquei sem enxergar dois dias. Mas, por sorte, cresci forte e saudável. Nunca tive nada que não se curasse com chazinhos de mãe feitos pela tia da escola, e por sorte a minha saúde ainda é uma boa companheira.
Eu sou distraída, esqueço do que não me preocupa, tenho muita preguiça, confesso a minha desorganização, e por outro lado tomo cuidado com o TOC (as minhas músicas estão salvas em ordem alfabético conforme o artista). Mas, por sorte sempre fui inteligente e aprendo rápido, sou esperta quando quero. Por sorte, a minha intuição sempre esteve certa. Não decidi que fosse assim no meu último ano de colégio, mas aconteceu o que tinha de acontecer, e por sorte eu ganhei uma bolsa pra cursar o que eu sempre quis.
Já menti, trai segredos e confiança. Briguei tanto com a minha melhor amiga que fomos levadas para a diretoria da escola, perdi o meu "minguinho" na 6ª série, quando ela foi embora. Já abandonei tantas pessoas no meio do caminho, a maioria por egoísmo, o resto pq assim tinha de ser. Mas, por sorte, tenho poucas pessoas que eu sei que vão comigo pra sempre e em qualquer lugar, são as minhas almas gêmeas. Sim, por sorte eu encontrei as minhas. Tenho tantos amigos que nem sei como contar, eles riem, brigam, dançam, fazem festa, gritam, me chamam de "animal", falam o dia todo comigo no msn, dividem a vida, e choram, e seguram a minha cabeça erguida sempre. Por sorte.
Eu já tive um amor platônico pelo meu vizinho da frente, que nem sabia que eu existia. Já passei as noites imaginando como seria o meu primeiro beijo e depois a minha primeira vez. Já quis muitas pessoas, me apaixonei tantas vezes. Criei contos de fada na minha cabeça, com histórias de Mirc, de MSN, de Orkut. Já beijei tantas vezes sem saber o nome, fiz sexo sem amor e com culpa também, já encontrei a decepção. Vivi um amor doente, sofri demais, abaixei a cabeça e me perdi, perdi muita coisa com esse amor achando que era assim que tinha que ser, chorei tanto tempo que meu coração ficou marcado pra sempre. Ainda prefiro não falar sobre ele. Mas, por sorte, encontrei toda a calma da minha vida em uma pessoa, que me fez sentir em meses o que eu acreditava que se levariam anos para construir. Entendi o que era perdão, amor, certeza, redenção e plenitude quando abri o meu coração de verdade. A gente não tem quase nada em comum, e não se apaixonou a primeira vista.. nem de perto. Por sorte, nos reconhecemos e nos descobrimos.
Gritei com a minha mãe, desejei que alguém morresse, fiz sexo sem camisinha, pensei em me matar, roubei o amor de alguém, fumei maconha, roubei dinheiro da bolsa da minha mãe, troquei quem me amava por nada, tomei um porre e perdi a vergonha, fiz fofoca, devo ter feito alguém chorar e sofrer, menti descaradamente e manupulei, desdenhei, fiz birra e muitas escolhas erradas. Nunca fui uma delinqüente juvenil ou depravada, pelo contrário, sempre fui a melhor filha, aluna, amiga, namorada e pessoa que eu pude ser. Mesmo assim, a perfeição só pode ser vista por quem entende que ela não pode ser tocada. Apesar de ser uma pessoa boa, errei muitas vezes. Mas, por sorte, tive sempre uma segunda chance, e consegui amadurecer antes que o pior acontecesse. Tenho a vida que eu sempre quis, a liberdade e o amor que desejei, e uma coragem enorme pra lutar por tudo que ainda está por vir. Ano que vem estou formada e desempregada, tenho R$ 3 na carteira até o final do mês. Mas sou amada e amo tanto, e com tanta beleza que às vezes me falta o ar. Sorte.
Não tenho religião, e quase não vou a nenhuma Igreja, Centro ou qualquer lugar de espiritualidade. Rezo quando eu lembro de rezar, apesar de ter um terço pendurado na minha escrivaninha. Mas, por sorte, Deus conversa comigo sempre, e eu sinto as asas do meu anjo sobre mim sempre que eu chamo por ele. Sempre que tive sorte consegui ver o rosto de Deus em muitos lugares e em muitas pessoas.
Pode não ser sorte, pode ser destino, carma ou qual for o outro nome que as pessoas inventarem. Por mim, tudo bem, acho que não faz diferença. Por via das dúvidas, nasci ariana, meu número da sorte é o 7, número divino, meu ascendente é áries e, por sorte, eu tenho só 21 anos.

Namorar


Na hora de cantar todo mundo enche o peito nas boates, levanta os braços,sorri e dispara: "eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também".

No entanto, passado o efeito do uísque com energético e dos beijos descompromissados, os adeptos da geração "tribalista" se dirigem aos consultórios terapeuticos, ou alugam os ouvidos do amigo mais próximo e reclamam de solidão, ausência de interesse das pessoas, descaso e rejeição.

A maioria não quer ser de ninguém, mas quer que alguém seja seu. Beijar na boca é bom? Claro que é! Se manter sem compromisso, viver rodeado de amigos em baladas animada ssimas é legal? Evidente que sim. Mas por que reclamam depois? Será que os grupos tribalistas se esqueceram da velha lição ensinada no colégio, onde "toda ação tem uma reação".

Agir como tribalista tem consequências, boas e ruins, como tudo na vida. Não dá, infelizmente, para ficar somente com a cereja do bolo - beijar de língua, namorar e não ser de ninguém.

Para comer a cereja é preciso comer o bolo todo e nele, os ingredientes vão além do descompromisso, como: não receber o famoso telefonema no dia seguinte, não saber se está namorando mesmo depois de sair muitas vezes com a mesma pessoa, não se importar se o outro estiver beijando outra,etc, etc, etc. Embora já saibam namorar, "os tribalistas" não namoram.

Ficar, também é coisa do passado. A palavra de ordem hoje é "namorix". A pessoa pode ter um,dois e até três namorix ao mesmo tempo. Dificilmente esté apaixonada por seus namorix, mas gosta da companhia do outro e de manter a ilusão de que não está sozinho. Nessa nova modalidade de relacionamento, ninguém pode se queixar de nada. Caso uma das partes se ausente durante uma semana, a outra deve fingir que nada aconteceu, afinal, não estão namorando.

Aliás, quando foi que se estabeleceu que namoro é sinônimo de cobrança? A nova geração prega liberdade, mas acaba tendo visões unilaterais. Assim como se deseja "a cereja do bolo tribal", enxerga somente o lado negativo das relações mais sólidas.

Desconhece a delí cia de assistir um filme debaixo das cobertas num dia chuvoso comendo pipoca com chocolate quente, o prazer de dormir junto abraçados,roçando os pés sob as cobertas e a troca de cumplicidade, carinho e amor.

Namorar é algo que vai muito além das cobranças. É cuidar do outro e ser cuidado por ele, é telefonar só para dizer bom dia, ter uma boa companhia para ir ao cinema de mãos dadas, transar por amor, ter alguém para fazer e receber cafuné, um colo para chorar, uma mão para enxugar lágrimas, enfim, é ter"alguém para amar".

Já dizia o poeta que "amar se aprende amando" e se seguirmos seu raciocínio, esbarraremos na lição que nos foi passada nas décadas passadas: relação é sinônimo de desilusão. O número avassalador de divórcios nos últimos tempos, só veio a confirmar essa tese e aqueles que se divorciaram (pais e mães dos adeptos do tribalismo), vendem na maioria das vezes a idéia de que casar é um péssimo negócio e que uma relação sólida é sinônimo de frustrações futuras. Talvez seja por isso que pronunciar a palavra "namoro" traga tanto medo e rejeição.

No entanto, vivemos em uma época muito diferente daquela em que nossos pais viveram.

Hoje podemos optar com maior liberdade e não somos mais obrigados a"comer sal junto até morrer".

Não se trata de responsabilizar pais e mães, ou atribuir um significado latente aos acontecimentos vividos e assimilados na infância, pois somos responsáveis por nossas escolhas, assim como o que fazemos com as licões que nos chegam. A questão não é causal, mas quem sabe correlacional.

Podemos aprender a amar se relacionando.

Trocando experiências,afetos, conflitos e sensações. Não precisamos amar sob os conceitos que nos foram passados. Somos livres para optarmos.

E ser livre não é beijar na boca e não ser de ninguém.

É ter coragem, ser autêntico e se permitir viver um sentimento... É arriscar, pagar para ver e correr atrás da felicidade. É doar e receber, é estar disponí vel de alma, para que as surpresas da vida possam aparecer.

É compartilhar momentos de alegria e buscar tirar proveito até mesmo das coisas ruins.

Ser de todo mundo, não ser de ninguém, e ao mesmo que não ter ninguém também... e não ser livre para trocar e crescer...

É estar fadado ao fracasso emocional e a tão temida solidão.



Por Arnaldo Jabor


terça-feira, 21 de setembro de 2010

Lá veem o Chaves, Chaves, Chaves..!


Que bonita a sua roupa,
Que roupinha mucho louca,
Nela é tudo remendado,
Não vale nenhum centavo,
Mas agrada a quem olhar!



Lembranças..

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Possuída



Tirei um tempo para vir até aqui, daqui a 1 hora já tenho orientação.
Tenho andado tão ocupada nos últimos tempos, que quase não tenho visto o mundo.
Talvez por isso me surpreendi tanto com tudo. Pra mim essa sensação é normal, estou sempre surpresa.
Sabe aquela sensação de que as pessoas falam, o 'amortecimento'?
Não sentir mais, não se emocionar, não se surpreender. Acho que nunca vou sentir isso, pois sempre me surpreendo.
Passo uma boa parte dos meus dias de olhos bem fechados, não sei se é uma escolha. Só sei que não me preocupo mais com isso.
Tenho mudado tanto, em tão pouco. Ontem mesmo cheguei a conclusão de que posso estar possuída, talvez até procure um centro espírita. Tenho a sensação de que existe mais alguém aqui dentro, aliás estou sentindo que existe muita gente aqui dentro.
Tenho mudado de opinião rapidamente, comecei a dar sermões de certo e errado, juntei todas as responsabilidades e coloquei na mochila atrás da minhas costas, limpei toda a casa, lavei toda a roupa suja, não tenho parado para chorar, me cansei de gente indecisa e ando deixando de achar graça nas desgraças alheias.
Comecei a me identificar com a minha mãe, prestei mais atenção no que estava fazendo, me dei conta de que estava selecionando as pessoas para as quais contava segredos, voltei pra minha família, para os meus antigos amigos mandei um e-mail, me chamo de lar agora e não vejo mais nenhum problema em voltar atrás.
Não gosto mais de gastar em coisas que eu não vejo dando resultados, quero um compromisso e não uma relação, perdi a insegurança, estou me achando realmente bonita.
Mesmo sem tempo, ainda tenho medo do que vai acontecer com o meu futuro, queria que a minha mãe me fizesse um chazinho pra febre, assisti um filme de terror e fui dormir ela há alguns dias atrás, mando corações e recadinhos pro meu namorado, corremos da chuva enquanto eu segurava um saco de Doritos no domigo passado. Eu penso em casar de vestido branco com ele.
Ainda não sei qual dos tantos espíritos que estão em mim será o que eu vou pedir pra continuar, não decidi tudo que eu quero ser.
Sinto o quanto a minha vida tá mudando, de todas as escolhas que eu tô fazendo, mas no fundo, bem lá no fundinho, eu ainda queria uma noite do pijama com um concurso de dança, e um troféu feito de rolo de papel higiênico.
Mas também quero muito subir naquele palco dia 21 de janeiro, com a minha toga e dedicar o meu diploma a minha mãe. Também quero ser mãe, e esposa, e namorada, e jornalista, e feliz, e mulher.
Quero ser tudo. Então acho que não vou procurar centro nenhum, vou é tentar conviver com todos estes 'outros' que vivem dentro de mim. Porque apesar de tudo, ainda mantenho a ingenuidade quando necessário e a maldade o resto do tempo, mas mesmo assim me surpreendo com todas as obviedades da vida. Devo ser uma criança de salto alto.
Já dizia Humberto Gessinger: "ei mãe, e por mais que a gente cresça.. tem sempre alguma coisa que a gente não consegue entender".

domingo, 5 de setembro de 2010

Não é Amor



“I love the way you lie.”

Ela se viu ali naquela tela.

Ela viu ele também.

Quantas vezes você precisa passar por isso para aprender?

O quanto você ainda quer sofrer?

Era o que todos perguntavam.

Ela nem escutava, só o que ela conseguia ouvir era o coração. O quanto ele batia quando ela pensava nele, o quanto ele queria sair do peito e encontrar o dele.

O corpo chamava, era o cheiro, a voz, o mundo.

Ela não sabia.

Era só a paixão, de um jeito que ela nunca havia visto em lugar nenhum.

De um jeito que ela sabia que não ia sentir novamente.

Ele sentia o mesmo?

“Eu larguei tudo por você. E eu sei que isso vai ser pra sempre, não importa quanto tempo passe, você ainda vai ser minha.”

Parecia uma sina, seria um tipo de praga cigana?

Ela não conseguia se desvincilhar. A vontade era de chorar, gritar, bater nele, morder, abraçar.. amar.

Vontade do beijo de um jeito que sugava a alma, do corpo sem sentido, dos movimentos rápidos e ao mesmo tempo lentos e em harmonia, perdidos no tempo.

E quando eles brigavam? A energia criada poderia movimentar o mundo.

E quando ela chorava, era mais um sonho que se ia a cada lágrima.

Amor?

Nunca foi.

Paixão?

Sempre. E pra sempre.

O olhar se encontrava em cada passo, a voz era uma badalada de meia-noite. De tão ressoante, tão marcante. Ela sentia os braços dele na sua cintura, no seu peito.. as mão que acariciavam e sufocavam ao mesmo tempo.

Não existi conversa, apenas gritos. Não existia carinho, apenas o toque.

Eles não faziam amor, eles faziam a vida acontecer. O mundo emudecer com os gritos da pele. A pele secar com o suor, com a língua em um desenho perfeito.

Eles se perdiam dentro de si.

Eles nunca seriam felizes. Apenas fadados a um carma que não teria fim.

O dia em que ela disse “não”. O mundo acreditou que seria o fim. Menos os dois.

Eles sabiam que jamais acabaria. Um ciclo vicioso, de ódio e necessidade.

Nem todo o silêncio, nem a vida nova, nem todo o amor do mundo apaga as batidas do coração.

Eles se reconhecem em um só olhar. Eles se marcam em apenas um toque.

Ninguém entenderia. Apenas aqueles que padecem da mesma doença.

Ela não é idiota, sabe reconhecer o amor de verdade. Aquele que ela implorou a Deus em cada noite sem dormir, a cada grito contido na garganta durante eternas madrugadas.

Ela jamais iria desperdiçar tamanha beleza, nunca fecharia a porta para o sagrado que a vida lhe oferece. Por isso, ela continua ali parada, olhando pra ele enquanto sabe que tudo isso passa pela cabeça dele. Nesses breves dois segundos, em que os dois estão sozinhos do mundo.

Então a boca abre e fecha, e a dele também. A realidade aparece, e tudo volta a girar.

Ela volta pra vida, como se nada tivesse acontecido. E ele também, se vira e segue o caminho.

Mas o coração.. ah esse reconhece o outro, e por segundos bate como se tudo fosse terminar.. e depois volta ao seu compasso normal.

Afinal não é amor.

“That's alright, because I love the way you lie.”