sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Por Sorte


Estou escutando "Chão de Giz" e me deu vontade de agradecer, de falar de tudo que é bom. Perco muito tempo enumerando tudo que deu errado e tudo que eu não queria que fosse.
As vezes, e algumas pessoas diriam quase sempre, eu sou muito chata e exigente. Me perco nos detalhes pequenos e esqueço do que é muito maior.
Como eu já disse sou egoísta.
Mas tudo bem, por que eu sempre tive muita sorte na vida.
Nasci na sorte, sou a 7ª filha de uma mãe que eu não conheço. Depois disso, tive mais sorte ainda, não fui para um abrigo.
Sabe-se lá por que a minha mãe pegou um fusca e veio me encontrar, o que importa é que ela disse que eu a reconheci na hora em que ela me pegou no colo, e ela encontrou o que procurou por vidas. Depois disso ela me perdeu no fusca, e me derrubou na cama, me deixou muito tempo com o xampoo mata-piolho, e por aí vão as histórias. Mãe de primeira viagem, e a minha mãe por sorte.
A minha tia esqueceu o meu nome quando o juiz pediu, e por sorte eu me chamei Bibiana. Por sorte e por Érico Veríssimo, só depois que eu entendi a força do nome Bibiana Terra.
Eu podia estar em qualquer lugar, mas por sorte eu recebi uma família que me criou com todo o amor que é possível. Eu fui embora de casa algumas vezes, cheguei a rodoviária com algumas moedas tentando chegar no México talvez, mas eles sempre me perdoaram e me trouxeram de volta. Eles me seguiam pra ver até onde eu ia. E eu também levei a culpa por ter matado uma barbie da minha prima. Há alguns anos atrás, a minha outra prima confessou o crime. Mesmo assim, por sorte eles são a minha herança.
Eu tive bronquite, sinusite, amigdalite, dor de dente, furúnculo no ouvido, quebrei o braço, torci o pé e minha mãe esmagou um marimbondo nas minhas costas. Enfiei o dedo em um cano de piscina, um cisco caiu no meu olho e eu fiquei sem enxergar dois dias. Mas, por sorte, cresci forte e saudável. Nunca tive nada que não se curasse com chazinhos de mãe feitos pela tia da escola, e por sorte a minha saúde ainda é uma boa companheira.
Eu sou distraída, esqueço do que não me preocupa, tenho muita preguiça, confesso a minha desorganização, e por outro lado tomo cuidado com o TOC (as minhas músicas estão salvas em ordem alfabético conforme o artista). Mas, por sorte sempre fui inteligente e aprendo rápido, sou esperta quando quero. Por sorte, a minha intuição sempre esteve certa. Não decidi que fosse assim no meu último ano de colégio, mas aconteceu o que tinha de acontecer, e por sorte eu ganhei uma bolsa pra cursar o que eu sempre quis.
Já menti, trai segredos e confiança. Briguei tanto com a minha melhor amiga que fomos levadas para a diretoria da escola, perdi o meu "minguinho" na 6ª série, quando ela foi embora. Já abandonei tantas pessoas no meio do caminho, a maioria por egoísmo, o resto pq assim tinha de ser. Mas, por sorte, tenho poucas pessoas que eu sei que vão comigo pra sempre e em qualquer lugar, são as minhas almas gêmeas. Sim, por sorte eu encontrei as minhas. Tenho tantos amigos que nem sei como contar, eles riem, brigam, dançam, fazem festa, gritam, me chamam de "animal", falam o dia todo comigo no msn, dividem a vida, e choram, e seguram a minha cabeça erguida sempre. Por sorte.
Eu já tive um amor platônico pelo meu vizinho da frente, que nem sabia que eu existia. Já passei as noites imaginando como seria o meu primeiro beijo e depois a minha primeira vez. Já quis muitas pessoas, me apaixonei tantas vezes. Criei contos de fada na minha cabeça, com histórias de Mirc, de MSN, de Orkut. Já beijei tantas vezes sem saber o nome, fiz sexo sem amor e com culpa também, já encontrei a decepção. Vivi um amor doente, sofri demais, abaixei a cabeça e me perdi, perdi muita coisa com esse amor achando que era assim que tinha que ser, chorei tanto tempo que meu coração ficou marcado pra sempre. Ainda prefiro não falar sobre ele. Mas, por sorte, encontrei toda a calma da minha vida em uma pessoa, que me fez sentir em meses o que eu acreditava que se levariam anos para construir. Entendi o que era perdão, amor, certeza, redenção e plenitude quando abri o meu coração de verdade. A gente não tem quase nada em comum, e não se apaixonou a primeira vista.. nem de perto. Por sorte, nos reconhecemos e nos descobrimos.
Gritei com a minha mãe, desejei que alguém morresse, fiz sexo sem camisinha, pensei em me matar, roubei o amor de alguém, fumei maconha, roubei dinheiro da bolsa da minha mãe, troquei quem me amava por nada, tomei um porre e perdi a vergonha, fiz fofoca, devo ter feito alguém chorar e sofrer, menti descaradamente e manupulei, desdenhei, fiz birra e muitas escolhas erradas. Nunca fui uma delinqüente juvenil ou depravada, pelo contrário, sempre fui a melhor filha, aluna, amiga, namorada e pessoa que eu pude ser. Mesmo assim, a perfeição só pode ser vista por quem entende que ela não pode ser tocada. Apesar de ser uma pessoa boa, errei muitas vezes. Mas, por sorte, tive sempre uma segunda chance, e consegui amadurecer antes que o pior acontecesse. Tenho a vida que eu sempre quis, a liberdade e o amor que desejei, e uma coragem enorme pra lutar por tudo que ainda está por vir. Ano que vem estou formada e desempregada, tenho R$ 3 na carteira até o final do mês. Mas sou amada e amo tanto, e com tanta beleza que às vezes me falta o ar. Sorte.
Não tenho religião, e quase não vou a nenhuma Igreja, Centro ou qualquer lugar de espiritualidade. Rezo quando eu lembro de rezar, apesar de ter um terço pendurado na minha escrivaninha. Mas, por sorte, Deus conversa comigo sempre, e eu sinto as asas do meu anjo sobre mim sempre que eu chamo por ele. Sempre que tive sorte consegui ver o rosto de Deus em muitos lugares e em muitas pessoas.
Pode não ser sorte, pode ser destino, carma ou qual for o outro nome que as pessoas inventarem. Por mim, tudo bem, acho que não faz diferença. Por via das dúvidas, nasci ariana, meu número da sorte é o 7, número divino, meu ascendente é áries e, por sorte, eu tenho só 21 anos.

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