sábado, 9 de julho de 2011

Ficando Nua



Eu fico pensando nas tartarugas.
Aquelas minusculas bolinhas verdes com perninhas, deixando a segurança do seu ovo e correndo até o mar.
Eu penso na tartarugas nascendo. Frágeis tartarugas, com os seus corpinhos ainda se formando, apenas contando com o seu casco. Eu penso nelas tentando sobreviver, usando a coragem de leões enormes para conseguirem chegar até o mar e viver os seus cento e poucos anos restantes.
Eu penso na coragem de sair da casca.
Nos sentimos tão pelados quando isso acontece. Tão nus diante da descoberta do outro, tão nus diante daquilo que somos.
E tão difícil encarar a realidade nua e mais que crua do que somos e do que sentimos.
Eu tive um desses momentos.
De repente a frase que eu não queria ouvir se escancarou na minha frente, e eu tive que admitir que era verdade. Eu tive que me despir desse fato, e abri-lo. Me senti assim, totalmente desprotegida.
- Às vezes eu nem sei como te tocar.
É verdade, às vezes nem eu sei.
Eu tenho um problema sério com a aceitação da minha imagem no espelho. Eu sempre tive. Geneticamente sou pré-disposta a engordar.
O meu pediatra sempre disse pra minha mãe que ela deveria controlar a minha alimentação até os 10 anos, por que depois seria muito difícil. Bem, digamos que eu nunca ajudei nessa parte, e sempre utilizei da chantagem emocional para obter comida.
Na infância nunca foi um problema tão grande, acho que o bullyng da minha época era diferente de hoje. Eu também sempre tive muitos amigos e descobri outros meios que pudessem me fazer usufruir da sociabilidade.
Sempre fui uma criança social, apesar de também saber brincar sozinha.
Na adolescência o problema foi maior, é claro. Felizmente eu tinha uma base mais que sólida, e todo o apoio que sempre precisei. Eu fiz terapia, eu utilizei a homeopatia, eu tinha família e amigos. Aos poucos eu aprendi que existiam algumas maneiras de driblar a situação. Maquiagem e moda sempre me interessaram. Aprendi a ficar bonita.
Eu nunca tive anorexia, nem bulimia, nem nada parecido. Mas tenho uma preocupação extrema com a minha imagem. Não tem a ver apenas com o peso, mas com o cabelo, com a roupa e com tudo mais que possa melhorar ou não o que eu vejo no espelho.
Na verdade eu não posso confiar no que eu vejo no espelho.
É difícil, eu preciso me controlar em tudo, o tempo todo. Controlar a alimentação, malhar todo dia, me dedicar ao máximo em tudo. Se eu simplesmente parar por 1 mês ou mais perco todo o meu trabalho.
É difícil de aceitar que eu sou assim, mas eu sou. Mesmo assim, quase sempre eu estou bem, eu vivo no efeito sanfona, eu me peso toda a semana, eu fico me remoendo de culpa mas consigo tirar férias da academia por 2 meses no inverno. Mas eu não me engano, no verão eu me mato correndo atrás do tempo perdido.
Não é grave, isso acontece com quase a maioria das mulheres, em maior ou menor intensidade. Todas nós somos escravas de espelhos, algumas conseguem se sentir bem com o que a natureza lhes ofereceu, outras tentam transformá-la, e outras simplesmente não conseguem aceitar o que enxergam. 
Eu sou um meio termo, na verdade eu preciso sempre de controle, sempre de atenção.
Na maioria do tempo eu me mantenho firme, não caio na tentação de ousar desprezar a minha beleza. Mas sempre tem aqueles dias. Nesses dias eu só preciso de mais carinho, e um pouco mais de tempo e paciência.
Esse é apenas um dos meus defeitos. Um deles que foi descoberto. Um defeito admitido, que me fez ficar nua. E bom, apesar da minha obsessão com a beleza e a perfeição, me sinto totalmente a vontade com a nudez física, principalmente quando se fala em sexo por amor, quando o desejo é maior que a vontade. Mas estar nua de alma, desprovida de qualquer camada de segurança? Essa nudez só é possível quando me inspiro na coragem das tartarugas de abandonar as suas cascas. E mesmo assim, quase sempre sou pega de surpresa.

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